Sarampo: alerta epidemiológico |
Qui, 12 de Setembro de 2019 16:57 |
Carlos Vital Tavares Corrêa Lima
O sarampo é uma doença causada por um vírus e tem sintomas similares aos de enfermidades respiratórias: febre com tosse, irritação nos olhos, nariz escorrendo ou entupido e mal-estar intenso. Cerca de três a cinco dias depois da contaminação, podem surgir outros sinais, como manchas vermelhas no rosto e atrás das orelhas, que se espalham pelo corpo. Entre os mais vulneráveis à doença estão crianças menores de 5 anos e pacientes desnutridos ou com o sistema imunológico enfraquecido. Para prevenir o aparecimento de novos casos, o melhor caminho é a vacinação tríplice viral, que, além do sarampo, também protege contra caxumba e rubéola. Desde 2004, recomenda-se a administração de duas doses desta vacina. Por conta do surto de sarampo, o Brasil perdeu sua certificação outorgada pela OPAS, o que exige de todos fazer uma reflexão sobre as causas que levaram a uma mudança tão radical, em pouco tempo, no perfil epidemiológico brasileiro, o que sugere falhas na política nacional de imunização. O êxito das sucessivas campanhas de vacinação realizadas nas últimas três décadas, fez com que o País baixasse a guarda contra a prevenção ao sarampo. Como os registros da doença desapareceram, a população deixou de responder prontamente aos apelos das autoridades, e com isso as taxas de vacinação caíram. Além disso, o movimento antivacina, surgido nos Estados Unidos nos anos 2000, também fez estragos. Com o uso de informações duvidosas e sem qualquer evidência científica de peso, esses ativistas passaram a abordar pais e responsáveis, convencendo-os a não imunizarem suas crianças. O resultado dessa equação é que a nova onda de sarampo chegou ao País no momento em que o número de vacinados estava aquém do ideal, rompendo o frágil equilíbrio epidemiológico, num fenômeno que tem se repetido em outros países. Para recuperar os níveis de segurança perdidos, será necessário muito empenho de toda a sociedade. Considera-se ideal que pelo menos 95% da população tenha sido vacinada com duas doses contra o sarampo, ou seja, as famílias deverão tomar as doses oferecidas nas campanhas de vacinação. De modo complementar, os órgãos de vigilância sanitária devem ter atenção redobrada para apontar novos casos e fazer os devidos bloqueios vacinais nas áreas onde forem encontrados. Aos médicos, cabe a responsabilidade de se capacitar para fazer o diagnóstico e atendimento da população, em especial de crianças e adolescentes. Trata-se de um grande desafio para os profissionais da medicina, pois os mais jovens não tiveram contato direto com pacientes contaminados, o que pode, em algum momento, dificultar o reconhecimento de sinais e sintomas. Por isso, os documentos elaborados por sociedades médicas, como as de Pediatria, de Infectologia e de Clínica Médica, devem ser fontes de subsídios para os que quiserem ajuda. Por sua vez, o Conselho Federal de Medicina (CFM) prepara uma série de videoconferências, com a participação de especialistas convidados, para abordar temas relacionados à vigilância epidemiológica e dar ao médico acesso a ferramentas fundamentais para cumprir seu papel com segurança e eficácia. Na junção de esforços, poderemos enfrentar o sarampo, garantindo saúde e vida para a população.
Palavra do Presidente publicada na edição nº 293 do jornal Medicina. |