Medicina diagnóstica
//Luiz Roberto Londres*
Em todas os campos da atividade médica qual seria, na realidade, a Medicina diagnóstica? Seria, sem a menor dúvida, o raciocínio clínico cujas bases principais são o estabelecimento da relação médico-paciente e a anamnese completa com todas as suas partes, sendo as mais importantes a queixa principal, a história da doença atual, a história patológica pregressa, a história familiar e a história social.
Um médico bem formado chega a hipóteses diagnósticas corretas em 90% dos casos ao final da anamnese, antes mesmo do exame físico e de qualquer exame complementar, exames que hoje são denominados erroneamente de “Medicina diagnóstica”. E essa foi a minha experiência, de quem se formou em um tempo em que os exames complementares eram eletrocardiografias; os exames de imagem que se resumiam à radiografia e radioscopia; e nesse campo ainda não haviam chegado a ultrassonografia, a hemodinâmica, a tomografia computadorizada, a ressonância nuclear e outros. E, nessa época, os exames laboratoriais eram também extremamente restritos.
A importância da subjetividade, tanto do médico quanto do paciente, costuma ser, na maioria dos casos, o mais importante caminho para se chegar a um diagnóstico correto. O pensador americano Howard S. Barrows, em seu livro “Developing Clinical Problem-Solving Skills: A Guide to More Effective Diagnosis and Treatment”, discorre sobre esse assunto mostrando o que é a real Medicina diagnóstica.
Vemos, nos dias de hoje uma inclinação dos médicos formados nos últimos tempos, para aquilo que Nelson Rodrigues chamava “os idiotas da objetividade”.
Seu pensamento torna-se restrito a dados colhidos no exame físico e/ou vindos de exames complementares e desprezando não apenas os dados colhidos na anamnese, mas a própria anamnese que fica restrita a algumas perguntas com suas respostas que costumam gerar solicitação de exames complementares e receitas de medicamentos. E é por isso que vemos crescer a quantidade incrível de exames normais causando custos crescentes, pois a maior parte deles são solicitados sem a menor necessidade.
Esta situação é uma das principais distorções da atividade médica e é justamente por esse motivo que o bordão “Medicina Diagnóstica” deveria ser proibido ao se referir a Exames Complementares, plantando na mente de todos a importância do raciocínio clínico advindo principalmente daquilo que deveria ser obrigatório em todas as consultas médicas: a relação médico-paciente e a anamnese completa.
* É membro da Comissão de Humanidades Médicas do CFM, diretor e Fundador do IMC – Instituto de Medicina e Cidadania.