IV Congresso Brasileiro de Humanidades Médicas


encontro discutiu a interface entre ciência e arte

Cinco profissionais de destaque na medicina foram homenageados, no fim da tarde de 6 de novembro de 2014, com a outorga de comendas entregues pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) por suas relevantes contribuições ao país ao longo de suas trajetórias pessoais e profissionais. A solenidade aconteceu durante o IV Congresso Brasileiro de Humanidades Médicas.

Na lista de homenageados estão: Aldir Blanc, que recebeu a comenda Moacyr Scliar (Medicina, Literatura e Artes); Joffre Marcondes de Rezende, reconhecido com a Comenda Fernando Figueira (Medicina e Ensino Médico); José Rodrigues Coura, agraciado com a comenda Sérgio Arouca (Medicina e Saúde Pública); Luiz Roberto Londres, foi homenageado com a Comenda Mário Rigatto (Medicina e Humanidades Médicas); e Silvia Regina Brandalise, que ganhou a Comenda Zilda Arns (Medicina e Responsabilidade Social). Veja mais detalhes abaixo.

Durante a cerimônia, acompanhada por amigos, familiares e admiradores dos novos comendadores, o presidente do CFM, Carlos Vital, e o secretário Geral da autarquia, Henrique Batista e Silva, lembraram que a entrega dessas distinções reconhece os valores e a dedicação dos escolhidos em prol da medicina em cada uma de suas áreas de atuação.

AGRACIADOS COM A COMENDA CFM – 2014

COMENDA MOACYR SCLIAR – MEDICINA, LITERATURA E ARTES

Aldir Blanc Mendes: Carioca, ingressou na Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro com 19 anos, onde se formou em 1971. Por volta de 1977, consagrou-se como um dos mais importantes letristas, compositores e cronistas brasileiros. No entanto, permanece médico inscrito sob o CRM-RJ 160850, assim como mantém a atualização na especialidade que escolheu, psiquiatria. Conhecido como o poeta da anistia e do grande amor à sua cidade, Aldir Blanc há muito se rendeu à arte e dá-nos o prazer de ler, ouvir e cantar suas composições. Durante a carreira, compôs com grandes nomes da música brasileira, como João Bosco, Sueli Costa, Cristóvão Bastos, Djavan, Luis Carlos da Vila, Ivan Lins, Wilson das Neves e Guinga, nos legando clássicos como “O Bêbado e a Equilibrista” – até hoje lembrada na voz de Elis Regina. Junto à carreira de músico-letrista, Aldir Blanc conciliou a de cronista, estreando no folhetim Pasquim, onde mostrava “a vida como ela é” de uma forma muito irreverente.

COMENDA FERNANDO FILGUEIRA – MEDICINA E ENSINO MÉDICO

Joffre Marcondes de Rezende: Cursou Medicina na Faculdade Nacional de Medicina, Rio de Janeiro, concluindo a graduação em 1950. Esteve à frente da fundação da Faculdade de Medicina de Goiás, federalizada e incorporada à Universidade Federal de Goiás em dezembro de 1960, atuando como professor titular fundador. Sua docência se voltou às áreas de Clínica Médica e Gastroenterologia, chefiando o Departamento de Clinica Médica e ocupando o cargo de vice-diretor da Faculdade de Medicina. Uma de suas primeiras contribuições científicas data de 1950, quando descreveu uma síndrome nova, até então não constante dos livros de Obstetrícia. Dedicou-se a estudar os aspectos clínicos e epidemiológicos da doença de Chagas, em Goiás. O trabalho, iniciado em 1955, teve como foco especial as manifestações desta enfermidade no aparelho digestivo. Como resultado dos estudos desenvolvidos sobre a doença de Chagas por ele realizados, ou sob sua orientação, diversos fatos novos foram estabelecidos em relação á fisiopatologia, clínica, e diagnóstico da doença de Chagas em suas várias fases, com ênfase no comprometimento do aparelho digestivo.

COMENDA SERGIO AROUCA – MEDICINA E SAÚDE PÚBLICA

José Rodrigues Coura: Natural de Taperoá, pequena cidade do Sertão da Paraíba. Aos 19 anos, migrou para o Rio de Janeiro, visando continuar os seus estudos, ingressando na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1952. Formou-se em 1957. Sua atuação acadêmica iniciou-se em 1960 como instrutor de ensino na Faculdade de Medicina da UFRJ, na Disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias. Entre 1961 e 2013, publicou 257 trabalhos em revistas nacionais e internacionais, além de ser responsável por centenas de resumos de trabalhos apresentados em congressos e reuniões científicas. Publicou ainda oito livros e 27 capítulos em livros de sua especialidade, um dos quais intitulado “Dinâmica das Doenças Infecciosas e Parasitárias”, agraciado com o Prêmio Jabuti 2006. Organizou e coordenou cursos de pós-graduação stricto sensu. Como mestre, orientou várias dissertações e teses de mestrado e doutorado, povoando o Brasil de Norte a Sul e de Leste a Oeste com líderes de ensino e pesquisa.

COMENDA MÁRIO RIGATTO – MEDICINA E HUMANIDADES MÉDICAS

Luiz Roberto Londres: Sua carreira começa com o primeiro lugar no concorridíssimo vestibular da então Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil. Durante o ciclo básico, trabalhou com o Professor Carlos Chagas Filho, no Instituto de Biofísica da universidade. No anos 1970, deixou a prática médica e dedicou-se ao estudo da teoria da Medicina. Em 1988, concluiu o mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). No final dos anos 80, participou ativamente na elaboração do capítulo da saúde na Constituição Federal de 1988, que garante a saúde como direito de todos e dever do Estado. O médico Luiz Roberto Londres defende uma Medicina em que os valores humanos tenham mais importância que os números.

COMENDA ZILDA ARNS – MEDICINA E RESPONSABILIDADE SOCIAL

Silvia Regina Brandalise: Formou-se pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp). É membro e fundadora do Centro Infantil Domingos A. Boldrini, no município de Campinas (SP), um hospital filantrópico e de ensino, especializado em hematologia e oncologia da criança e do adolescente, que mudou a realidade do tratamento do câncer pediátrico em nosso país, servindo de modelo para o restante do Brasil. Em sua atuação científica, acadêmica e assistencial, contribuiu para edificar os pilares da oncologia pediátrica no Brasil, buscando a centralização do atendimento (evitando a peregrinação de crianças e pais por vários hospitais) e implantando tratamentos de maior eficácia e menor toxicidade. O reconhecimento do seu trabalho lhe rendeu vários prêmios, entre os mais recentes o IV Prêmio Octavio Frias de Oliveira categoria Personalidade de Destaque em Oncologia, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octávio Frias de Oliveira (Icesp) e Grupo Folha.

Interface entre a medicina e o saber, a filosofia e a sociedade

As contribuições do processo artístico para o desenvolvimento da tecnologia foram discutidas na tarde de quinta-feira (7), na mesa A arte de fazer ciência, durante o IV Congresso Brasileiro de Humanidades Médicas. Sob a coordenação do conselheiro Henrique Batista e Silva, os convidados Armando José d’Acampora, Luiz Roberto Londres e José Paranaguá de Santana trouxeram contribuições sobre o tema na perspectiva da interface entre a medicina e o saber, a filosofia e a sociedade, respectivamente.

Armando d’Acampora, em sua apresentação, definiu arte como processo criativo ocorrido a partir da percepção, com o intuito de expressar concepções e ideias. Por sua vez, ressaltou que ciência se produz a partir da aquisição de conhecimento a partir da apropriação do método científico. “A arte é composta de obras únicas, que nem sempre podem ser reproduzidas, ao passo que a ciência tem essa capacidade”, disse. Para ele, a medicina, como campo de conhecimento, é constituída destes dois elementos – a ciência e a arte.

Na sequência, Luiz Roberto Londres falou sobre a história da medicina e conduziu o público a compreender as diferenças que estabelecem na relação médico-paciente ao longo dos séculos. Na realização de uma consulta estas diferenças se materializam, citou. “Hoje, os dados são segmentados, não permitindo o raciocínio clínico e a visão holística do paciente. A Medicina foi reduzida à ciência e esqueceu-se que a Medicina também é filosofia. A medicina existiu antes do advento da ciência moderna. Por isso, é importante que o paciente não seja esquecido como pessoa e não seja tratado como um objeto como que se concerta”.

Finalmente, José Paranaguá propôs uma reflexão sobre a relação entre política, especialmente a voltada para a saúde, e a Medicina. Após uma análise dos contextos surgidos no período pós-guerra, ele alertou para a carência de respostas a projetos na área da assistência em âmbito nacional. O expositor destacou ainda o processo de democratização no país, a implantação do avançar em propostas para solucionar problemas crônicos, como o incremento de salário para fixar os médicos em áreas carentes.

Fonte: CFM

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