O médico, por Paulo Rebelo


// Paulo Rebelo*

O médico, ser humano exausto de tantas guerras para salvar incontáveis vidas ou aliviar o sofrimento humano, à beira da loucura, busca entender o que está ocorrendo diante da tragédia das centenas de mortes que assistiu e já quase sem forças indaga o paciente lhe pedindo ajuda para sobreviver e que continue a lutar bravamente, uma vez que este sempre foi ajudado pelo médico quando o doente dele mais precisou.

O médico

Quem és tu?

Minha secretária?

Minha mulher?

Um paciente?

Perdoe-me

Nunca sei

Onde estamos

Que dia é hoje?

Segunda? Terça? Quarta ou Domingo?

Bem, o que importa?

Trabalhar pela vida humana é meu destino

Afinal, onde estou mesmo? Em casa ou no meu consultório?

Vivo ou já morto?

É muito estranho

É tarde

Meu café esfriou

É um sonho? Pois eu durmo

Isso me faz bem

Há quantos dias exatamente?

O que se passa, não contigo, mas comigo?

Não sei mais!

Estou aqui ou lá?

Responda-me

Nada sei

Diga-me: por que me doí tanto a alma?

É um pesadelo!

Estou louco, creio eu!

Vou substituir minha cabeça

Ela já se perdeu uma vez

Em algum lugar no mundo

Num piscar de olhos

No fundo do mar

Talvez

No céu

Quem sabe….

Ajude-me, meu paciente!

Eu te imploro

Sejas tu agora meu médico, por favor

Apresse-se

É urgente!

Traga-me qualquer medicamento

Para o meu coração

Que palpita apressadamente.

Estou atrasado!

Preciso voltar ao campo de batalha